(Ver
mais fotos abaixo do texto)
Primeiro
foi uma pequena informação na matéria “Nau Capitânia” publicada
na Revista do Clube Naval nº 307 , depois, no mesmo mês, a confirmação
na notícia publicada no jornal O Globo em O Globo de 11/9/98 onde resumia que o
estaleiro holandês Damen Shipyard havia sido incumbido de construir o veleiro
que iria servir de navio-escola para a Marinha Brasileira, ao custo de US$ 30 milhões,
criando empregos equivalentes a 200 mil homens/hora.
Tratava-se
no atual veleiro da Marinha Brasileira CISNE BRANCO - NVe (U-20) que alem de Navio Escola exerce funções diplomáticas e de relações públicas desde Março de 2000 quando foi incorporado.
Era
a constatação de que a Marinha Brasileira voltaria a ter um grande veleiro como
navio-escola. Seria louvável a atitude, considerando que praticamente todas as
marinhas do mundo mantém a tradição , se não significasse a prova de como se podem
desperdiçar as oportunidades que se tem
a mão, como foi o caso do Brasil.
A Marinha Brasileira
teve até quase o final do século passado ( Século XX) não apenas um, mas dois
dos maiores, mais bonitos e imponentes veleiros do mundo .
Foram o Almirante Saldanha e o Guanabara , que ainda
estão vivos em nossa memória.
O Guanabara foi recebido como indenização e presa de
guerra depois da 2ª Guerra Mundial. Capturado em perfeitas condições pelos
Norte Americanos, foi entregue ao Brasil e incorporado à Marinha em 1948. Mais
tarde, em 1972 no mesmo surto de modernização da frota que mutilou o Almirante
Saldanha foi doado à Marinha de
Portugal, recebendo o nome de Sagres (veja quadro).
Mas indiscutivelmente foi o Almirante Saldanha o
mais charmoso e elegante veleiro que já tivemos. Encomendado a estaleiros
ingleses em 1932, durante 30 anos foi utilizado para formar oficiais, sendo
famosas as suas viagens anuais de circunavegação com os cadetes recém-formados
pela Escola Naval.
Ele foi chamado por muitos de Cisne Branco , apelido
originário do Hino da Marinha Brasileira, embora na realidade outros 2 navios
tivessem ostentado verdadeiramente este nome.
Ele chegou a ilustrar uma famosa lata de biscoitos
Aymoré nas décadas de 40 e 50 hoje disputada por colecionadores de antigüidades.
Infelizmente foi vítima da maior ofensa e degradação
que pode ser dada a um veleiro. Em 1964, depois de já ter sido transformado no
ano de 1959 em Navio Hidrográfico e substituído pelo Guanabara nas viagens de
instrução, teve todos os seus mastros arrancados, seu convés modernizado com a inclusão de uma nova superestrutura incluindo
chaminé aerodinâmica e corte de seu castelo de popa, com a retirada integral da
cabine do comandante (uma peça de 13 toneladas, que é capaz de ainda estar por
aí, em algum canto), de forma a facilitar espaços para os arcos de arrasto de
pesca e apreensão de materiais marinhos em seu aparcelamento como Navio
Oceanográfico.
O Almirante Saldanha
assim aleijado continuou servindo à Marinha até ser abandonado como
sucata .
Felizmente esta euforia de modernização da Marinha
que na época não levou em conta as mais
altas tradições navais parece ter se
encerrado, com a volta às suas origens, e o desejo de se possuir novamente um
grande veleiro para instrução naval.
Até aí, a atitude é louvável.
Mas por que comprar um novo veleiro, se o nosso
Almirante Saldanha ainda existe, a poucos metros da principal Base Naval do
Brasil, no Mocanguê em Niterói ? O velho Cisne Branco está ali, semi-adernado mas inteiro e
flutuando, escondido por detrás da Ilha da Conceição, sendo possível avista-lo
da entrada da Ponte Rio- Niterói (sentido Niterói-Rio).
Em todo o mundo Marinhas de Guerra e instituições
particulares fazem o possível e o impossível
para recuperar velhos veleiros. Um casco como este, inteiro e flutuando
não tem preço, quando se sabe que expedições milionárias retiram cascos
naufragados do fundo do mar para coloca-los novamente em forma. Qualquer
brasileiro que já tenha ido a New York e visitado o Píer 17 deve ter visto 2
grandes veleiros ali atracados. Um de casco preto, e outro cinza. Ambos são
embarcações recuperadas, e o pintado de
cinza foi construído como veleiro no final do século passado,
transformado em navio cargueiro a vapor por volta da 1ª Grande Guerra quando
seus mastros foram retirados e depois abandonado semi submerso na Patagônia na
década de 40. Mesmo assim foi recuperado há poucos anos, levado para os Estados
Unidos , e lá vem sendo remontado pacientemente com a instalação de mastro
idênticos aos originais, e exposto à visitação pública (custa US$ 2,00 a visita
por pessoa) .
Ora, um casco construído em 1933 certamente deve
estar melhor do que um 40 anos mais velho, ainda mais levando em conta que era
conservado pela Marinha do Brasil, que sempre se esmerou neste item. Alem
disto, sabe-se que grande parte do desmonte original feito na reforma de 1964
foi parar em acervos de instituições da Marinha, o que facilitaria em muito a
recolocação de algumas peças como partes dos mastros, armamento original,
cabine do comandante , alem de se possuir plantas completas do veleiro, e
maquetes perfeitas, como a de quase 1,5 metros existente no Museu Naval do Rio
de Janeiro (Av. Don Manoel 35, Centro) cedida pelos próprios fabricantes por
ocasião da entrega do veleiro ao Brasil.
Ainda hoje quando se olha de perto o Almirante
Saldanha suas linhas impressionam. Seu comprimento, de 93 metros é apenas 30
metros inferior às Fragatas da classe Niterói, espinha mestra de nossa marinha
(veja quadro). Seu casco, embora enferrujado, mas de aço naval de 1ª qualidade
ainda ostenta o seu nome gravado em ambos os lados.
E, como um velho Cisne Branco, aguarda ansioso
alguém que se lembre de que, se seu passado é de glórias, quem sabe ainda lhe
restaria um futuro, com suas grandes asas de pano com mais de 7.800 m2 de área
a espera de um bom vento.
Antonio Luiz Accioly Netto
NE/NOc
Almirante
Saldanha -
U
10/H 10
Classe Almirante Saldanha
D a t a s
Batimento de Quilha: 11 de junho de 1933
Lançamento: 19 de dezembro
de 1933
Incorporação: 11 de junho
de 1934
Baixa: 6 de agosto de 1990
C a r a c t e r í s t i c a s
Deslocamento: 3.325 ton (carregado).
Dimensões: 93.39 m de
comprimento, 15.85 m de boca e 5.50 m de calado.
Propulsão: velas, armado
em lúgar-escuna, de quatro mastros e 19 velas; e diesel com 1 motor diesel de
1.400 hp, acoplado a 1 eixo com hélice de quatro pás.
Velocidade: de cruzeiro de 9 nós e máxima de 14
nós (motor).
Raio de Ação: 10.000 milhas a 9 nós.
Armamento original:
4 canhões Armstrong de 4 pol. (L/75
de 102 mm) de tiro rápido em 2 torres duplas
4 canhões de 47 mm
1 metralhadora A.A. de 0,5
pol.
1 tubo lança torpedo de 21
pol.( 533 mm.)
1 canhão de A.A. de 3 pol.
(75 mm.)
1 metralhadora de 7 mm.
Código
Internacional de Chamada: PWSA
Tripulação: 460 homens,
sendo 22 oficiais, 61 suboficiais e sargentos, 317 cabos e marinheiros, 16
segundos-tenentes, 40 guardas-marinha e 4 civis.
Custo : 314.500 Libras
Esterlinas
Estaleiro : Vickers Armstrong
of Barrow in Furness ,Inglaterra
Modificação :
Reclassificado com Navio Oceanográfico em Agosto de 1964
Totalmente reformado em sua
superestrutura e com a retirada de toda sua mastreação em 1964.
Estado Atual :
Abandonado como sucata
encalhado na Ilha da Conceição em Niterói até meados de 2010.
Em 2017 foto aérea no Google Map não mostrava mais nenhum casco que se assemelhasse ao Almirante Saldanha no local onde esteve por várias décadas.
Curiosidade:
O
Almirante Saldanha foi um dos maiores veleiros do mundo construído no século
passado.
Serviu
como modelo para o Navio Escola Chileno Esmeralda
construído em 1952 pelo estaleiro espanhol Echevarrieta Yard de Cadiz, que era uma cópia do Navio Escola Espanhol Juan Sebastian de Elcano lançado pelo
mesmo estaleiro de Cadiz em 1927, e que por sua vez inspirou o desenho de
Almirante Saldanha, tendo sido lançado ao mar antes deste . Todos estes NE
ainda estão em atividade em suas respectivas Marinhas de Guerra e costumam
participar de grandes regatas comemorativas.
Os antigos veleiros de instrução da
Marinha Brasileira
GUANABARA NE-2
Comprimento
: 91 metros
Boca
: 11,8 ms.
Calado
: 4,8 ms.
Deslocamento
:
1.634
toneladas
Tripulação
: 289 homens, sendo 200 alunos
Mastreação
: 3 mastros , o maior com 48 ms. de altura
Área
vélica : 6.524 m2 (Velocidade com velame : acima de 18 nós)
Motor
auxiliar : Diesel MAM 700 H.P. (Velocidade no motor : 10 nós)
Armamento:
2
canhões MG
Lançado
ao mar em 31 de Outubro de 1937
Custo
ao Brasil : US$ 1,00 (*)
Estaleiro
: Blohm & Voss , Hamburgo, Alemanha
Vendido
para Portugal por US$ 1,00 em 2 de Julho de 1972 (*) e rebatizado como SAGRES.
(*)
Na realidade, tanto para o Brasil como para Portugal a venda foi uma doação, o
valor de US$ 1,00 é apenas simbólico
Informações Complementares:
O
ex-Guanabara foi construído junto a mais 3 outros irmãos gêmeos pela Alemanha
antes da II Guerra Mundial para formar seus novos oficiais navais.
O
ex-Guanabara foi lançado com o nome de Albert Leo Schlageter, e seus outros
irmãos foram o Horst Wessel lançado em 1936, rebatizado EAGLE e
incororado Marinha de Guerra dos Estados Unidos e o primeiro Gorch Foch lançado
em 1933, rebatizado TOVARISCH na Marinha
de Guerra da Rússia (ex-USRR).Todos foram capturados intactos como reparação
por perdas e danos pelos Estados Unidos
ao final da Guerra em 1945 . O 4º. casco ficou incompleto por vários anos até
que a Alemanha o terminou e colocou em serviço também como navio escola em 1958
com o mesmo nome do primeiro anterior GORCH FORCH . Todos da classe Horst
Wessel. Os veleiros SAGRES, EAGLE , TOVARISCH e
GORCH FOCH continuam em operação e assim como os primos do Almirante Saldanha participando inclusive de regatas oceânicas ou comemorativas para
veleiros de grande porte , sendo que o SAGRES costuma visitar o Brasil com
frequência. (Fonte : Jame´s Fighting Ships)